por Teresa Dias Carneiro
Sou professora de Estudos da Tradução, no Departamento de Letras-LIBRAS, na Faculdade de Letras da UFRJ. Comecei a ministrar a disciplina Introdução aos Estudos da Tradução, no segundo semestre de 2014, para alunos dos cursos de Bacharelado (formação de intérpretes LIBRAS/Português) e Licenciatura (formação de professores bilíngues LIBRAS/Português) de Letras-LIBRAS. Esta é uma disciplina de primeiro período, em turmas mistas, compostas por alunos surdos e ouvintes. O professor é auxiliado em sala de aula por um intérprete educacional de LIBRAS.
Como os alunos são calouros e quase nenhum deles esteve exposto a discussões sobre tradução antes na vida, o assunto deve ser abordado de maneira muito introdutória. Passei a usar como material didático duas plataformas, muito diferentes em propósito e organização, para me auxiliar nessa tarefa. A primeira á a plataforma aberta do curso de Letras-LIBRAS, da UFSC (http://www.libras.ufsc.br/), mais antigo do que o da UFRJ, e que se tornou referência para a organização dos cursos de Letras-LIBRAS que foram se inaugurando Brasil afora, na esteira da legislação que instituiu a Libras como língua de sinais brasileira oficial (Lei no 10.436/2002), determinou a formação do professor de Libras em nível médio e superior, definindo o perfil mínimo para o exercício da profissão, e incluiu Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de licenciatura e Fonoaudiologia e optativa para outros cursos (Decreto no 5.626/2005), e regulamentou a profissão de Tradutor/Intérprete de Libras (Lei no 12.319/2010).
O segundo recurso foi a TradWiki, que se autodenomina “uma enciclopédia online sobre tradução escrita por tradutores e pesquisadores da área” (http://www.tradwiki.net.br/Página_principal). O primeiro recurso é claramente – e foi pensado desde sua organização para que fosse -, um REA (Recurso Educacional Aberto), o segundo não foi pensado como tal (na sua definição transcrita assim, não consta a possibilidade de ser acessado e contribuído por professores e alunos), pelo menos não em sua proposição inicial, mas nada impede que seja usado dessa forma. A minha experiência, relatada a seguir, vem comprovar isso.
Segundo a UNESCO/Commonwealth of Learning:
Recursos Educacionais Abertos (REAs) são materiais de ensino, aprendizado, e pesquisa em qualquer suporte ou mídia, que estão sob domínio público, ou estão licenciados de maneira aberta, permitindo que sejam utilizados ou adaptados por terceiros. O uso de formatos técnicos abertos facilita o acesso e o reuso dos recursos publicados digitalmente. Recursos Educacionais Abertos podem incluir cursos completos, partes de cursos, módulos, livros didáticos, artigos de pesquisa, vídeos, testes, software e qualquer outra ferramenta, material ou técnica que posso apoiar o acesso ao conhecimento. (2011) (http://www.rea.net.br/site/conceito/)
Como alguns dos tópicos do programa da disciplina que ministrei correspondiam a verbetes existentes na TradWiki (tradução juramentada, tradução editorial etc.), e os alunos teriam que apresentar seminários sobre esses temas, sugeri que começassem sua pesquisa a partir da TradWiki e dali partissem para outras fontes que complementassem esse conteúdo. O resultado percebido foi muito bom, além das expectativas iniciais, o que me estimulou a explorar a TradWiki no ensino da disciplina de uma forma ainda mais ousada a partir do ano letivo de 2015.
A TradWiki ainda tem vários verbetes em vermelho, isto é, “vazios”, como subdivisões do tema “Interpretação”, ou que precisam ser completados, como o verbete “LIBRAS”, sendo que ambos necessitam da colaboração de voluntários para existirem ou serem enriquecidos. Pensei então em “matar dois coelhos com uma cajadada só”: criar atividades instigantes para os alunos e contribuir com a TradWiki, num primeiro momento, e criar uma Wiki para a disciplina na plataforma Moodle (essa é a plataforma oficial do projeto Letras2.0, da UFRJ), num segundo momento. Vejamos minhas ideias iniciais (comentários, observações e contribuições são muito bem-vindos):
O Projeto – dois momentos
1º momento: Atividade de escrita colaborativa no REA TradWiki:
- Propor aos alunos completar o verbete LIBRAS, criando subitens (enquete a ser feita com os alunos de quais subitens poderiam ser criados), compartilhando um documento no Google Drive e dividindo tarefas.
- O professor serviria como mediador, comentador e revisor da versão final do verbete.
- O link seria carregado no site da TradWiki como contribuição coletiva.
2º momento: Criação de uma Wiki da disciplina no Moodle, com conceitos abordados no material didático e na sala de aula:
- Nome da Wiki: Introdução aos Estudos da Tradução 2015.1
- Descrição da Wiki: enciclopédia de verbetes criados a partir dos conceitos discutidos na disciplina Introdução aos Estudos da Tradução
- Produção Textual Coletiva
- Gênero textual: verbetes enciclopédicos
- Nenhum grupo na modalidade grupo (todos os alunos da turma participam).
- Propor o uso de diferentes cores com a inserção de uma pequena legenda, definindo a cor a ser usada por cada aluno. Cada aluno da turma fica responsável por um verbete.
- Os alunos votam um editor-chefe do texto final.
Em cada verbete deverá haver a inserção de imagens, vídeos incorporados e links externos que possam exemplificar o conceito do verbete.
Exemplo:
Criação do verbete “Adaptação”
- Definição geral do termo
- Definição por autores específicos, incorporando a citação e referência bibliográfica. Por exemplo, conceito de “adaptação” por autores que tratam de tradução audiovisual.
- Inserção de uma imagem, link externo ou vídeo. Por exemplo, uma adaptação de texto literário para o cinema.
A depender do resultado da Wiki da disciplina, os verbetes criados poderiam ser carregados na TradWiki, expandindo seu conteúdo. Como essa proposta ainda não foi posta em prática, e depende totalmente da participação ativa dos alunos, veremos ao final do semestre o que poderá ser aproveitado, se for do interesse dos organizadores da TradWiki.
Como as novas tecnologias digitais estão somente começando a ser utilizadas nas disciplinas da faculdade de Letras, principalmente fora das disciplinas de ensino de inglês, ainda há tudo para se explorar nesse novo mundo. Com novas iniciativas (e o relato compartilhado dessas iniciativas), boas ideias podem surgir para tornar aulas teórico-conceituais muito mais interessantes e dinâmicas. De quebra, essa experiência ainda colaborará com a disciplina Ensino de Português como L2 para Surdos, já que é notória a dificuldade que muitos alunos surdos apresentam na redação do português na variedade padrão.
Leitura recomendada para quem se interessa por REAs:
SANTANA, Bianca, ROSSINI, Carolina e PRETTO, Nelson de Luca (org.). Recursos Educacionais Abertos: práticas colaborativas e políticas públicas. Salvador: Casa da Cultura Digital/EDUFBA, 2012. (http://issuu.com/lucaspretti/docs/livrorea)